Resultado: a rede pública nunca esteve tão lotada. O metrô, os trens da CPTM e os ônibus transportam diariamente 14,2 milhões de passageiros na Região Metropolitana. "Com o bilhete único, o usuário que pegava um ônibus e depois seguia a pé até o destino passou a tomar mais conduções", explica o engenheiro especialista em transporte Orlando Strambi, da Escola Politécnica da USP. Essa mudança lotou ainda mais o sistema, o que derrubou os índices de aprovação dos usuários de metrô e ônibus municipais e metropolitanos, segundo a pesquisa da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) divulgada no ano passado. Por esse motivo, especialistas acreditam que dificilmente os novos passageiros dos coletivos são ex-motoristas que deixaram o carro na garagem.
A pesquisa Oridem-Destino do Metrô mostra também que há cada vez mais gente substituindo o carro pela moto ou pela bicicleta. É o caso do empresário Franz Schoenborn. Desde o início do ano, ele aposentou sua Toyota Corolla Fielder e tirou o pó da bicicleta encostada. "Não agüentava mais ficar parado nas ruas", diz ele, que encara até 14 quilômetros de pedaladas todo dia. Morador dos Jardins, Schoenborn costumava gastar 25 minutos para percorrer de carro os 3 quilômetros entre sua casa e a sede da empresa, no centro. De bicicleta, leva apenas dez minutos. Em 2007, a bicicleta foi responsável por cerca de 324 000 viagens diárias na Região Metropolitana de São Paulo, o dobro do registrado no último estudo, em 1997. "É um sinal de que a sociedade está arrumando maneiras de se adaptar às lentidões", explica Adriano Murgel Branco, ex-secretário esta-dual dos Transportes. "Além disso, ainda é o meio de transporte mais barato que existe." As viagens de moto seguiram a mesma tendência e quadruplicaram nos últimos dez anos. Todo dia a motocicleta é usada em mais de 580 000 percursos de casa ao trabalho. Ah, não estão incluídas aí as rotas dos motoboys.
Mas, se os moradores da Região Metropolitana estão usando mais o transporte coletivo, andando mais de bicicleta e moto, por que afinal os congestionamentos não diminuem? A resposta é de uma triste obviedade: todos os dias, os 17 000 quilômetros de vias de São Paulo recebem 950 novos veículos. Desde 1950, a população paulistana quintuplicou, enquanto a frota cresceu oitenta vezes.


